15 julho 2006

A propósito de Uma espia na casa do amor #2


INTERPRETAR

O livro despertou-me bastante interesse logo desde o primeiro parágrafo. Outra sentimento meu não seria de esperar uma vez que se trata da Anaïs Nin. Despertei o meu interesse por esta escritora desde que vi pela primeira vez o filme Henry and June, há muito e muitos anos atrás.

Li com todo o entusiasmo a vida da mulher que se dizia uma espia na casa do amor. Não me desliguei da história enquanto não chegaram as últimas páginas. E confesso que fiquei um pouco confusa quando cheguei ao fim. Talvez porque estou sempre à espera de um princípio, meio e fim, mas não necessariamente por esta ordem – gosto de perceber a ideia que está a ser transmitida. Talvez por isso esteja agora a escrever estas palavras, sinto necessidade de chegar a um fim.

O livro é genial, a forma como está escrito é maravilhosa. Não há uma ordem bem definida, vão-se descrevendo momentos que vão permitindo conhecer a personagem principal. O leitor acaba por ser convidado a reflectir sobre a vida daquela mulher, e a tirar ilações sobre o porquê das suas atitudes. De referir ainda a forma como a autora consegue acompanhar a história com música, parece que estamos a assistir a uma peça de teatro.

Contudo, fiquei sem perceber se realmente a verdadeira razão de ela viver a vida com várias mentiras condenáveis pela sociedade, era por falta de amor. Quer dizer, por falta de amor não era pois amor tinha ela muito – o amor que alguns dos seus amantes sentiam por ela, o amor do marido. Mas no final do livro fala-se de ela não saber o que é amar. Fala-se de uma barreira que ela cria, nunca faz por conhecer verdadeiramente os homens com quem está, fica-se pela satisfação do desejo, nada mais. Ela nunca explora a parte do amar alguém. Fica no ar se ela tem esta atitude numa tentativa de se proteger de algo. Talvez um amor do passado, a quem ela se tenha entregue verdadeiramente, a tenha ferido. Ou desiludido. O amor desiludiu-a. O amor dos pais também a desiludiu, a infância desiludiu-a. A imagem que ela tem do homem - livre para mentir; e da mulher – passiva em relação às mentiras do homem, são o reflexo da relação dos pais.

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