28 março 2008

MACACOS DACTILÓGRAFOS


foto: autor desconhecido


“Imagina o leitor o que fará um macaco ao teclado de um computador? Parece uma ideia ociosa, mas em 1909 um dos grandes matemáticos de sempre, o francês Émile Borel (1871-1956), imaginou um macaco que escrevesse letras ao acaso. Mostrou que, dando-lhe tempo ilimitado, o macaco acabaria por escrever uma das peças de Shakespeare. Borel não falou de um computador, é claro, mas de uma máquina de escrever. E o seu argumento ficou conhecido como a parábola dos macacos dactilógrafos. Carregando teclas de forma puramente aleatória, não só é possível aparecer qualquer sequência de letras como ainda, se o tempo for infinito, qualquer sequência de letras irá necessariamente aparecer.
Matematicamente, este resultado é uma ilustração do chamado lema de Borel-Cantelli. Mas o assunto tinha começado a ser discutido muito antes. Nos tempos de César, o estadista e filósofo Cícero (106-43 a. C.) dissera que uma obra de literatura não pode ser criada atirando letras para o chão. Matematicamente estava errado, como se vê. Mas em termos práticos não disse nenhum disparate. A probabilidade de um macaco que escreve letras ao acaso, independentemente umas das outras, escrever de seguida um simples verso de Os Lusíadas é inferior à de sair cinco vezes seguidas o jackpot a um apostador no Euromilhões.
O mais divertido é que na Universidade de Plymouth, em Inglaterra, houve quem fizesse a experiência e desse uma computador a um grupo de símios. Sabe o que fizeram os macacos no teclado do computador? Defecaram e urinaram. Destruíram a máquina antes de formar uma única palavra.”


texto de NUNO CRATO | PASSEIO ALEATÓRIO PELA CIÊNCIA DO DIA-A-DIA



24 março 2008

preta





fotos: iké | Março de 2008

23 março 2008

Minha herança: uma flor


foto: iké | Março de 2008

Achei você no meu jardim entristecido
Coração partido
Bichinho arredio
Peguei você pra mim
Como a um bandido
Cheio de vícios
E fiz assim, fiz assim:

Reguei com tanta paciência
Podei as dores, as mágoas, doenças
Que nem as folhas secas vão embora
Eu trabalhei

Fiz tudo, todo meu destino
Eu dividi, ensinei de pouquinho
Gostar de si, ter esperança e persistência sempre

A minha herança pra você é uma flor
Um sino, uma canção, um sonho
Nenhuma arma ou uma pedra eu deixarei
A minha herança pra você é o amor
Capaz de fazê-lo tranqüilo, pleno
Reconhecendo no mundo o que há em si

E hoje nos lembramos sem nenhuma tristeza
Dos foras que a vida nos deu
Ela com certeza
Estava juntando você e eu

Achei você no meu jardim

Vanessa da Mata | Sim

20 março 2008




fotos: iké | Março de 2008

méfi, nina ou trufa?



foto: iké | Fevereiro de 2008

08 março 2008

Tenho tanto sentimento


Arthur Rackham


Tenho tanto sentimento
Que é frequente persuadir-me
De que sou sentimental,
Mas reconheço, ao medir-me,
Que tudo isso é pensamento,
Que não senti afinal.

Temos, todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.

Qual porém é verdadeira
E qual errada, ninguém
Nos saberá explicar;
E vivemos de maneira
Que a vida que a gente tem
É a que tem que pensar.


Fernando Pessoa, 18/09/1933